domingo, 26 de junho de 2011

Obras raras: definição

Para começarmos a discutir sobre Obras Raras é necessário primeiro conhecer quais são às características presentes em alguns livros para que os mesmos recebam esta denominação. Não existe uma fórmula fixa que determine a raridade de um livro, mas alguns critérios amplos que são adotados por colecionadores e bibliotecas, não sem alguma variação pessoal ou institucional. O próprio conceito “Obras Raras” dá inicialmente a idéia de se tratarem de objetos escassos, difíceis de serem encontrados. A definição dada pelo Dicionário Hoauiss para a palavra “raro” é: que não é comum, vulgar; que poucas vezes se encontra, se vê; em pequeno número; pouco numeroso; de que poucos indivíduos são dotados... Portanto, este como não poderia ser o contrário é o primeiro critério para o livro raro, mas também outros fatores podem ser preponderantes nesta determinação como: o limite histórico de produção do livro, levando em consideração todo o ciclo de fabrico, principalmente ligado a idéia da criação artesanal, desde os princípios do registro da informação, passando pelos manuscritos medievais, os incunábulos (da bíblia de Gutemberg à 1500), até os impressos do final do século XVIII onde ocorre a expansão da indústria editorial, com tipografias mecanizadas e produção em massa do papel. Em cada biblioteca também podem ser adotados critérios locais, pensando na região onde está (país, estado, cidade), pois são materiais relevantes para a história e cultura deste povo. No Brasil, uma coleção bastante relevante é a “Brasiliana”, como nomeada por Rubens Borba de Moraes, correspondendo a todos os livros publicados sobre nosso país (independente do local ou autor) até 1900.
Frontispício de Maurício de Nassau do livro Barlaeus de 1647 retirado de BCE UnB
Outro aspecto que traz raridade a um título é a importância do mesmo dentro do contexto cultural estrangeiro ou nacional, como são o caso de obras literárias de grandes escritores, principalmente as primeiras edições e as demais que foram revistas pelo próprio autor. Também são raros aqueles livros que marcaram determinada área do conhecimento com a quebra de um paradigma, modificando para sempre o pensamento humano, como por exemplo: “A origem das espécies” do Darwin. As tiragens que foram censuradas por algum motivo, também são raras, pois o censor geralmente as destrói por não aceitar o que dizem, restando pouquíssimos exemplares que por acaso sobrevivem e testemunham estes pensamentos contrários a um regime dominante. A canonização do objeto como é visto nas obras de arte também acontece com os livros, que tem sua importância elevada pelo fato de terem pertencido a alguém importante, o que pode ser comprovado através das marcas de propriedade, como assinaturas e ex libris.
Retirado de Dois Espressos
As confrarias geralmente produzem os livros de arte ou livros de artista, que possuem a chamada raridade induzida, pois mesmo que sejam produções recentes as técnicas empregadas na produção remetem aos processos artesanais, com papéis de boa qualidade, impressão às vezes em tipos móveis, tiragem reduzida de exemplares e gravuras de artistas de renome como ilustrações. Alguns outros atributos de importância podem ser adotados por cada biblioteca ou por cada colecionador, mas geralmente estes critérios estão vinculados a uma importância histórica dentro da evolução editorial, do valor cultural para uma determinada sociedade ou da significação de um único exemplar dentro de uma edição, seja pela marca de propriedade, ou pelos processos de produção que o torna diferenciado. Para aqueles que desejarem se aprofundar um pouco mais sobre o assunto fica a dica de alguns textos disponíveis on-line, como o artigo da Márcia de Carvalho Rodrigues, Como definir e identificar obras raras? critérios adotados pela Biblioteca Central da Universidade de Caxias do Sul (acesse aqui), onde fica claro a divisão histórica e aplicação de datas simbólicas na seleção de obras raras pelas bibliotecas; do Rízio Bruno Sant`Ana, Critério para a definição de obras raras (acesse aqui) que além de tratar sobre critérios de seleção trás uma breve discussão sobre catalogação destes livros, e do Oto Dias Becker Reifschneider, A importância do acesso às obras raras (acesse aqui) que traz alguns exemplos bem interessantes de Obras Raras.

2 comentários:

  1. Muito interessante esse assunto e está bem esclarecido neste post. O entendimento de obras raras é muito importante para o bibliotecário, pois é um tipo de acervo importante para a preservação da memória social, cultural, intelectual; enfim, merece o estudo realizado.

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  2. A compreensão do conceito de obras raras é essencial para a identificação e, posterior preservação da memória histórica e cultural de uma organização, instituição ou ente social. O acervo histórico é uma fonte preciosa para a gestão do conhecimento organizacional. Post muito bem redigido meu grande amigo..sucesso!!!

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